segunda-feira, 21 de julho de 2014

Drops



Copa é colorida

Quando menos se espera, uma multidão de estrangeiros anda por aí. E a cidade de São Paulo, pouco acostumada com a experiência, ganha novas cores. Colombianos no Veloso, japoneses na Liberdade (onde mais ?), alemães na Vila Mariana, norteamericanos mais ou menos por toda parte. Somando-se aos haitianos que começaram a chegar nos últimos meses e agora passam a encontrar trabalho por aí - fenômeno mais ou menos comum por onde ando - vejo uma cidade alegre e coberta de novas cores.

Copa tem uma cor só

Todos falaram das plateias da Copa, brancas como a Lua. Mas e as criancinhas que entravam junto com as seleções ? Uma multidão de pequenos arianos, com uma ou outra exceção. Como foram escolhidas essas crianças, houve algum critério ? Será que privilegiados ou poderosos em geral conseguiram furar esses critérios para nomear filhos, netos e sobrinhos ? Uma pista: aqueles dois ou três moleques grandes que vi, certamente pra lá dos 10 anos de idade, certamente furaram algum critério.

Copa é legal

A quantidade de jogos emocionantes e de jogadas de alta técnica empolgaram qualquer um, até mesmo os menos interessados no esporte. Os gols espetaculares, o destaque dos goleiros mesmo num torneio com muitos gols, as inúmeras tragédias homéricas - do guerreiro caiçara ferido com um joelhaço ao Apolo português desclassificado na primeira fase, do oriental canibal à deprimente epidemia de lágrimas que afligiu jovens adultos brasileiros -, tudo fez dessa Copa uma experiência inesquecível.

Copa é uma merda

O grande objetivo é a grana, que vem com a vitória. Para atingi-la vale qualquer coisa, e aqui entra aquele horrível jogo de cena que consiste em cavar faltas, dramatizar qualquer contato, puxar camisas, sair dando cotovelaços e por aí afora. O futebol transformou-se na grande arte de enganar os outros. Quando nosso ator mais habilidoso caiu gritando atingido por um joelhaço nas costas, a dois centímetros de distância de uma trágica paralisia, permaneci indiferente: já havia visto aquela careta de dor inúmeras vezes.

Cool memories

No começo, não dava bola para futebol: para o menino, futebol era para jogar na rua ou inspirar dramáticas partidas de botão. Quando me perguntavam o time, dizia, meio indiferente, “Corinthians”, talvez para ter mais amigos. Aos 11 anos, intuí que torcer de verdade para um time e acompanhá-lo seriamente era pré-requisito para ter algo parecido com uma “identidade”. Assim, meio aleatoriamente, tornei-me sãopaulino.

Veio a adolescência e as idas ao jogo de futebol, bem como as bandeiras, os ônibus lotados e os estádios – cheios sob o sol do verão e vazios nas noites de inverno. Porém logo percebi que mais torcia contra o meu time do que a favor: irritava-me ver o time querido jogar tão mal. Com os amigos, assistia outros jogos de outros times, e vibrava com boas jogadas e o bom futebol, independente da equipe. Logo, concluí que torcer era algo meio sem sentido, e passei a usufruir do futebol sem paixão clubística (um sintoma de irracionalidade do qual desconfio), e aqui encontrei meus melhores momentos com o futebol. Sendo assim, adorei os jogos da Copa e o 7 x 1 foi um dos jogos mais espetaculares que assisti em todos os tempos.

PS

Mais sem graça que chamar argentino de hermano, só mesmo chamar São Paulo de sampa.