11 de julho, hora
indeterminada, à bordo do vôo TF0013 para Istambul (sobre o deserto)
Acordo no Boeing
777 da Turkish Airlines rumo a Istambul em meio aos ruídos de um voo lotado.
Percebo que o turismo de massas tem algo de destrutivo, e essa percepção é
inevitável em um voo lotado rumo à Europa no verão. Percebo também que os
próprios viajantes – tratados quase sempre como gado tocado, seja nos aeroportos,
aviões ou nas afamadas “excursões” – fazem de tudo para escapar dessa sensação:
tornou-se quase um fetiche do viajante que aspira um mínimo de dignidade
descobrir “aquele lugarzinho especial”, onde os turistas nunca vão, “aquele
restaurantezinho afastado”, frequentado somente pelos habitantes locais. Assim,
o viajante pretende se destacar da turba e dizer que sua experiência de viagem
foi singular, que vou aquilo que ninguém viu, e que foi tratado melhor que a
turba. Lamento dizer, isso é falso. A própria presença do turista no
“lugarzinho especial” faz com que aquele deixe de ser um lugar autêntico. Ao
contrário do que sua mamãe dizia, você não é uma pessoinha especial, mas apenas
mais um turista como os outros.
11 de julho, 18h04, Aeroporto Internacional
Atatürk (Istambul)
A fila dos
passaportes é imensa, e as cercas de vidro que delimitam o caminho da longa
fila apresentam várias brechas. Algumas mulheres de véu aproveitam as brechas e
furam a fila descaradamente. Como assim ? Sua religiosidade as faz usar véus,
mas respeitar os semelhantes em uma situação banal do cotidiano não faz parte
do universo de valores ? Lembro de Dostoievsky, de Ivan Karamazov: “Se deus não
existe, então tudo é permitido”. Pois bem, para aquelas pessoas da fila nem a crença
em deus traz algum compromisso ético.
12 de julho, 10h58, Museu da Inocência,
nas proximidades da avenida Çukurcuma (Istambul)
Me pergunto que outro autor chegaria ao requinte de erguer um Museu em
homenagem à própria obra, com a humildade de Pamuk e sem parecer megalômano.
Penso em quais autores tem uma obra rica suficiente
para erguer um Museu. (Penso em Gabriel Chalita, cuja copiosa obra caberia em
um gaveta).
13 de julho, 17h06, dentro de Aya Sofia (Istambul)
13 de julho, 17h06, dentro de Aya Sofia (Istambul)
O turista pergunta, “Pode fotografar ?”. Penso em tudo por que a igreja de
Santa Sofia já passou, desde que foi construída em 537: seis terremotos, um
incêndio, três saques, dois desabamentos de cúpula, um desabamento de parede,
três reconstruções, duas reconversões e um Cisma. Ok, filho, pode fotografar.
Nada como uma educação
turca. O menino, nos seus oito ou nove anos – caminha com dificuldades em uma
arquibancada temporária construída no meio da praça, tentando seguir seu pai e
irmãos. Com dificuldades, ele tropeça e vai ao chão, evidentemente se
machucando e soltando um pequeno grito. O pai, ao ver o que aconteceu, retorna
ao menino e dá-lhe um sonoro safanão na orelha, punindo-o por ter caído.
15 de julho, 9h46, bairro de Süleymanie, próximo à Universidade
(Istambul)
Assisti o golpe inúmeras vezes: um engraxate em andrajos, meio velho, porém corpulento, caminha cabisbaixo pela rua, carregando sua caixa de engraxar, Ao cruzar com o turista em uma rua pouco movimentada, ele faz um discreto movimento com a mão que segura a caixa de engraxate e faz cair uma escova. O turista, desavisado e apiedado do pobre engraxate, prontamente recolhe a escova e a devolve. Em seguida, o engraxate agradece copiosamente, com todas as manifestações de humildade e submissão otomanas, inclusive beijar as mãos e se ajoelhar diante do benfeitor. Em seguida, o humilde engraxate se oferece para limpar os sapatos do pobre turista que, constrangido, acaba permitindo. Ao término do serviço, o engraxate se levante e diz: “Twenty lira”. O tom de voz humilde do engraxate se torna ameaçador, o gesto de bondade se transforma em assalto. E assim a Quarta Cruzada é vingada.
16 de julho, 13h15, Piazza Annunziatta (Genova)
Assisti o golpe inúmeras vezes: um engraxate em andrajos, meio velho, porém corpulento, caminha cabisbaixo pela rua, carregando sua caixa de engraxar, Ao cruzar com o turista em uma rua pouco movimentada, ele faz um discreto movimento com a mão que segura a caixa de engraxate e faz cair uma escova. O turista, desavisado e apiedado do pobre engraxate, prontamente recolhe a escova e a devolve. Em seguida, o engraxate agradece copiosamente, com todas as manifestações de humildade e submissão otomanas, inclusive beijar as mãos e se ajoelhar diante do benfeitor. Em seguida, o humilde engraxate se oferece para limpar os sapatos do pobre turista que, constrangido, acaba permitindo. Ao término do serviço, o engraxate se levante e diz: “Twenty lira”. O tom de voz humilde do engraxate se torna ameaçador, o gesto de bondade se transforma em assalto. E assim a Quarta Cruzada é vingada.
16 de julho, 13h15, Piazza Annunziatta (Genova)
Chego em Genova
como Peter Sellers chegando em Nova York no filme O Rato que ruge. A cidade está vazia, não se percebe uma alma nas
ruas. Saio a caminhar apreensivo e, por volta das 15h, a cidade volta a vida:
como em todas as cidades do Mediterrâneo no verão, a vida é suspensa no horário
de maior calor do dia.
17 de julho, um café em Lungarno (Firenze)
Duas partes de Aperol + duas partes de prosecco + uma parte de água tônica = SPRITZ !
19 de julho, 17h35, caminhando pelo
Centro Storico (Firenze)
Florença é
masculina, com sua impressionante profusão de órgãos genitais masculinos
espalhados pelas infinitas estátuas renascentistas da cidade. O “maior” deles
pertence ao Davi de Michelangelo, exibido na Galeria dell’Academia, em
reproduções em tamanho real na Piazza Michelangelo e frente ao Pallazzo
Vecchio, mas também em camisetas, broches, imãs de geladeira, cuecas desenhadas
e mil bugigangas fálicas vendidas pelos comerciantes de rua por toda a cidade.
Aqui, o monumento à Grande Guerra é uma coluna. A própria basílica e sua cúpula
foi construída ao lado de um batistério, o que acaba resultando em duas de
cúpulas e, entre elas, ergue-se a coluna possante do Campanille.
Ops ! Quem é aquele
caminhando no meio da rua ? Professor Augusto !!!
21 de julho, 11h18,
Piazza Maggiori (Bologna)
Bolonha é a terra
dos embutidos. Nos açougues, você pode escolher entre salame, salsiccia,
prosciutto, copa, speck, lardo, bresaola, mocetta, pancetta, finocchiona.
salamella, montone, filetto insaccato, sfilacci, sopressata, capocollo,
figatelli, cervellata, sanguinaccio, ciauscollo, cotechino, guanciale, zampone,
violino, lonza e, claro, mortadela, afetuosamente denominada pelos habitantes
da cidade como “bologna”.
CASA DEL PIACERE SORA GEMMA
Alla buona: ₤ 110
Doppietta: ₤ 200
Mezza ora: ₤ 450
Ora intera: ₤ 630
AGEVOLAZIONE PER IL GIOVANOTTO DI PRIMO PELO
23 de julho, 18h50, avenida Divan Yolu, (Istambul)
23 de julho, 18h50, avenida Divan Yolu, (Istambul)