Miami International Airport, 23 de
janeiro, 7h53
Escala na Flórida, sempre uma
oportunidade de observar o comportamento dos compatriotas fora de casa. Antigamente,
era muito fácil identificar um brasileiro no exterior, sobretudo na Europa:
bastava procurar alguém com um boné escrito NY ou um moleton de universidade
americana ou as inevitáveis camisetas “Hard Rock Cafe – Miami”. Queríamos ser
americanos. Hoje, por mais estranho que seja, os brasileiros se vestem com mais
discrição, embora tenham conseguido mais do que nunca personificar o norte-americano:
comportamo-nos como novos-ricos desvairados.
Doral Billiards, Miami, 23 de janeiro,
21h35
Quase um cenário de filme. Já no
estacionamento percebo uma quantidade significativa de pick-ups e carros esporte.
No interior enfumaçado (é permitido fumar), mesas de sinuca, cerveja em jarras, atendentes
peitudas e telões exibindo vários esportes ao vivo. Por todos os lados, posters com
mulheres voluptuosas anunciam exibição de UFC no fim de semana. Das paredes escorre
testosterona.
ao longo da Freedom Trail, Boston, 24 de
janeiro, 13h02
Boston também é chamada de Beantown,
devido à fama de comedores de feijão que seus habitantes têm. Ou melhor, tinham:
reviro a cidade em busca de um bom prato de feijão no estilo Boston e simplesmente
não encontro. Em compensação, tem gente vendendo lobster bisque em qualquer
esquina. Os bostonianos tornaram-se novos ricos desde há muito, e deixaram seus
pratos de feijão no passado.
Estação do metrô Kendall/M.I.T., Cambridge,
24 de janeiro, 18h12
No metrô Kendall/M.I.T. há estranhas
alavancas na parede da plataforma de embarque. Uma vez puxadas, elas imprimem
movimento pendular a grupos de martelos pendurados no teto, entre as duas
linhas de trem; os martelos, por sua vez, atingem longos cilindros sonoros de
metal, produzindo som do badalar de sinos. Para quê ? Para nada: apenas para as
pessoas se divertirem enquanto o trem não chega.
Kendall Square, Cambridge, 25 de
janeiro, 8h48
Dez graus abaixo de zero, céu claro, previsão de neve só no fim de semana. Antes de sair do hotel, checar: luva, cachecol, gorro, protetor labial, gel para as mãos (há epidemia de gripe na cidade), mapa, carteira, passaporte, cartão do hotel, bilhetes do metro, celular, moedas, chave da fechadura da mala, óculos de leitura. Vou deixando um rastro de objetos perdidos pelo caminho.
Dez graus abaixo de zero, céu claro, previsão de neve só no fim de semana. Antes de sair do hotel, checar: luva, cachecol, gorro, protetor labial, gel para as mãos (há epidemia de gripe na cidade), mapa, carteira, passaporte, cartão do hotel, bilhetes do metro, celular, moedas, chave da fechadura da mala, óculos de leitura. Vou deixando um rastro de objetos perdidos pelo caminho.
Kendall Hotel, Cambridge, 25 de janeiro,
13h14
Do meu quarto do hotel tenho acesso à
Wi-Fi ultrarrápida do M.I.T. Meu celular quase explode carregando páginas e
páginas a fio da internet.
Park Street, Boston, 26 de janeiro, 11h26
Além de Harvard (20 mil alunos) e do
M.I.T. (10 mil alunos), situados na vizinha cidade de Cambridge, a cidade de Boston – de seiscentos
mil habitantes – ainda abriga a Norht Eastern University (20 mil alunos), a Boston
University (30 mil alunos) e nada menos que 52 outras faculdades ou
universidades menores. O resultado é que a média de idade da população é bastante
baixa, e essa juventude transbordante é vista nas ruas o tempo todo, em grupos ou
isolados, no metro ou de bicicleta. Em 70% dos casos carregam imensos
copos de papel com café, em 80% dos casos estão digitando no celular.
Livraria Barnes & Noble, Prudential
Center, Boston, 26 de janeiro, 12h10
Nessa imensa livraria, as estantes de Filosofia
situam-se entre “Religion” e “New Age”.
M.I.T., Cambridge, 26 de janeiro, 19h49
Sábado à noite, maratona de ficção
científica no cineclube no M.I.T. ! O programa anuncia nada menos que 4 filmes,
além de pizza break e uma atração surpresa (a exibição do
primeiro episódio para a TV de Star Trek, em cópia de 35mm). O programa termina
às 6h da manhã do domingo, e nada menos que 140 Sheldons e Leonards compareceram. Impossível não pensar que, na mesma noite, em outra universidade bem
longe daqui, o pessoal foi para a balada...
North End, Boston, 27 de janeiro, 15h27
Legal Sea Foods, Cambridge, 28 de janeiro,
17h43
“Six for six”, seis ostras por seis
dólares é a promoção do happy-hour. Termina às 6h da tarde.
M.I.T., Cambridge, 29 de janeiro, 11h27
Pelas prateleiras do M.I.T., cruzo com
um Principles of Quantic Mechanics, de autoria de um certo R.Shankar. Trata-se
de uma introdução ao assunto, me explicam. Mas, peraí, R.Shankar ??? Impossível
não lembrar de Ravi Shankar, tocador de cítara indiano e guru dos Beatles a partir
de 1966. Fico imaginando que a dissolução da banda levou o músico indiano a perder
popularidade. Desiludido, voltou para a Índia em busca de novas experiências místicas
– o que o levou, obviamente, à mecânica quântica. Um pouco antes de me aprofundar no delírio, me explicam: R. é de Ramamurti, nada a ver com o mago dos Beatles.
Miami International Airport, 29 de janeiro,
17h19
No balcão da imigração. “Por favor, não
me entregaram o formulário I-94 quando eu entrei. Eu não teria que devolvê-lo
agora ?”. O guarda, de feições cubanas, pega meu passaporte vermelho, olha e me
devolve dizendo: “Você não precisa de formulário I-94. Você é italiano”.