Inteligere
Sempre me incomodou o uso da palavra inteligência. O que queremos dizer quando falamos que alguém é inteligente ? Da etimologia, sabemos que a palavra vem do latim inter (entre) e legere (ler). Porém, o sentido original de legere é do grego, legein, palavra de múltiplos sentidos, desde descrever/falar ate selecionar/escolher. O termo aparece, por exemplo, em Homero e vejam como grego é divertido: para combater os troianos era necessário λέγω άνδρας άρίστους /lego andras aristous, "escolher os homens mais valentes". E é claro que legein no sentido de dizer nos remete diretamente a logos, a palavra falada racional.
Essas considerações nada tem a ver com o uso comum da palavra inteligente. Seu uso reflete a forma como fetichizamos a inteligência: identificamos a pessoa inteligente como aquela capaz de realizar raciocínios lógicos-dedutivos. Assim, o inteligente é aquele que tem uma alta performance, por exemplo, resolvendo problemas matemáticos. Existe até um “quociente de inteligência” (deus me livre!), obtido através de um teste; muito embora seja evidente que a simples idéia de que inteligência possa ser medida e expressa em números já reflete uma visão de mundo tremendamente instrumental.
Pois há componentes na inteligência que vão muito além do raciocínio lógico. Claro, não se deve confundir inteligência com erudição, esta outra forma de fetichização da inteligência, dessa vez no âmbito das assim chamadas Ciências Humanas. Pois a verdadeira inteligência, a capacidade de inter-legere, implica em uma forte dose de criatividade, e esta, lamento constatar, não pode ser medida mas somente praticada. E aqui surgem os pré-requisitos para o seu despertar: a reflexão (enquanto atividade solitária, parente do repouso; se possível, próxima do devaneio, aquele estado intermediário entre pensamento e sonho) e mesmo o diálogo (o alegre colóquio de Platão, inspiração constante do blog e expressão de suas ambições intelectuais).
Sobre a criatividade enquanto parte da inteligência, escreveu Andrew Wiler: “Para alcançar essa (...) idéia nova, é necessário um longo período de atenção ao problema sem qualquer distração. É preciso pensar só no problema e nada mais – só se concentrar nele. Depois você para. Então parece ocorrer uma espécie de relaxamento durante o qual o subconsciente aparentemente assume o controle. E é aí que surgem as idéias novas”. O autor é um matemático inglês, que simplesmente demonstrou o teorema de Fermat, e sua referência ao relaxamento e à entrega ao subconsciente são significativas.
Sempre me incomodou o uso da palavra inteligência. O que queremos dizer quando falamos que alguém é inteligente ? Da etimologia, sabemos que a palavra vem do latim inter (entre) e legere (ler). Porém, o sentido original de legere é do grego, legein, palavra de múltiplos sentidos, desde descrever/falar ate selecionar/escolher. O termo aparece, por exemplo, em Homero e vejam como grego é divertido: para combater os troianos era necessário λέγω άνδρας άρίστους /lego andras aristous, "escolher os homens mais valentes". E é claro que legein no sentido de dizer nos remete diretamente a logos, a palavra falada racional.
Essas considerações nada tem a ver com o uso comum da palavra inteligente. Seu uso reflete a forma como fetichizamos a inteligência: identificamos a pessoa inteligente como aquela capaz de realizar raciocínios lógicos-dedutivos. Assim, o inteligente é aquele que tem uma alta performance, por exemplo, resolvendo problemas matemáticos. Existe até um “quociente de inteligência” (deus me livre!), obtido através de um teste; muito embora seja evidente que a simples idéia de que inteligência possa ser medida e expressa em números já reflete uma visão de mundo tremendamente instrumental.
Pois há componentes na inteligência que vão muito além do raciocínio lógico. Claro, não se deve confundir inteligência com erudição, esta outra forma de fetichização da inteligência, dessa vez no âmbito das assim chamadas Ciências Humanas. Pois a verdadeira inteligência, a capacidade de inter-legere, implica em uma forte dose de criatividade, e esta, lamento constatar, não pode ser medida mas somente praticada. E aqui surgem os pré-requisitos para o seu despertar: a reflexão (enquanto atividade solitária, parente do repouso; se possível, próxima do devaneio, aquele estado intermediário entre pensamento e sonho) e mesmo o diálogo (o alegre colóquio de Platão, inspiração constante do blog e expressão de suas ambições intelectuais).
Sobre a criatividade enquanto parte da inteligência, escreveu Andrew Wiler: “Para alcançar essa (...) idéia nova, é necessário um longo período de atenção ao problema sem qualquer distração. É preciso pensar só no problema e nada mais – só se concentrar nele. Depois você para. Então parece ocorrer uma espécie de relaxamento durante o qual o subconsciente aparentemente assume o controle. E é aí que surgem as idéias novas”. O autor é um matemático inglês, que simplesmente demonstrou o teorema de Fermat, e sua referência ao relaxamento e à entrega ao subconsciente são significativas.
Copa do Mundo
O goleiro da Alemanha chama-se Neuer (pronuncia-se Nóia, imagino-o fumando crack nas ruas do Centro); o atacante grego Salpingidis é tremendamente parecido com Platão (dos relatos que temos: baixo, atarracado, costas largas, nariz grego clássico). O som das vuvuzelas me faz pensar no zumbido interminável de insetos no meio de uma floresta africana úmida (nada menos parecido com a gélida África do Sul de junho).
Vou até a padaria e vejo um grupo se aglomerando junto a uma TV, para acompanhar o vibrante match entre Eslováquia e Paraguai. Enquanto isso, planejo onde assistir o próximo jogo do Brasil, se em casa, no bar ou no trabalho, e quem vou encontrar, quais as comidinhas, o que vou beber. Acredito que um imenso vazio irá tomar conta de nossas vidas quando a Copa do Mundo acabar. Mistah Kurtz, he dead.