1 – O que mais chama a atenção nas eleições, ultimamente, é que elas não mais envolvem questões de vida ou morte. No fim do regime militar e durante os anos da chamada consolidação democrática (anos 1990) simplesmente não se cogitava em votar nos esbirros da ditadura (ARENA/ PDS), em seus filhotes (Maluf, Sarney), nos sobreviventes de outra era (Jânio) ou na barbárie pura e simples (Collor). Quem votasse ou apenas demonstrasse simpatia por essas figuras simplesmente não era digno de pertencer a um círculo de amizades ou então gerava piedade (“Coitado, vai votar no Maluf...”). Nesse sentido, os 16 anos de FHC e Lula civilizaram o jogo político, ou pelo menos afastaram das eleições presidenciais as figuras mais sinistras. Diante dos Berlusconis e Bushes da vida, FHC e Lula são papa fina.
2 – Curiosamente, a polarização PT x PSDB às vezes ainda gera estranhos ódios: há tucanos que não conversam com petistas (afinal, “Lula é Mussolini”), e há petistas que assumem ar de denúncia quando se referem ao tucanato como “a direeeeeeita!”. Curioso, pois sabemos que tanto Dilma quanto Serra, uma vez eleitos, vão adotar as mesmas diretrizes básicas de governo: manutenção da estabilidade econômica, algum tipo de gerenciamento da miséria (esquemas do tipo Bolsa Família) e aliança com a parte da banda podre da política que lhe cabe. Isso para não falar da sórdida tendência que os membros de seus partidos têm de cuidar do Estado como se fosse um condomínio privado.
3 – Com Lula e o PT, consolidou-se a idéia de que o Estado é um papai provedor, e isso causa danos à política: o voto entra no esquema do “é dando que se recebe”, e a política passa longe de princípios ou projetos de longo prazo, reduzindo-se a uma sucessão de promessas rasteiras e troca de favores visando fins imediatos. Mas quem disse que com o PSDB é diferente ?
4 – Diante desse contexto – e sabendo que, seja qual for o resultado, a barbárie não irá vencer – começo a vislumbrar uma saída: diante da permanência da polarização PT x PSDB, votar sempre em quem for oposição, como forma de punir os escândalos da vez. Otimista, imagino que isso talvez resulte em moderação na prática de transformação do Estado em condomínio privado.
5 – Porém, é um erro partir das muitas semelhanças e concluir que não há diferença alguma entre PT e PSDB, Dilma e Serra. Em princípio, espera-se de um governo PT uma ênfase na distribuição, como exemplificado no governo Lula pela saudável tendência de aumento do salário mínimo. Porém, e a produção ? Os ventos internacionais favoráveis e a hábil ação de Lula na crise de 2008/2009 ajudaram a criar o clima de otimismo vigente. Mas, há algum plano que vá além de aproveitar a maré ? O país corre o risco de desindustrialização (mas corre mesmo ? qual o tamanho desse risco ?) e, sendo assim, não seria o caso de aproveitar o momento e adotar uma política industrial consistente, visando promover um profundo avanço no setor produtivo (para além da exportação de produtos primários ou semi-manufaturados) ?
6 – Em Serra, há uma promessa de valorizar a produção, embora nem sempre fique muito claro como. E a tão proclamada competência gerencial dos tucanos é altamente suspeita: veja a situação de caos prolongado em que a capital do Estado de São Paulo se mantém, após anos de gerenciamento tucano. Seja como for, a promessa de ênfase na produção traz a possibilidade de um resultado social que vai além do mero assistencialismo: aproveitar a expansão econômica e ampliar maciçamente o número de assalariados com carteira assinada. Mas isso basta ?
2 – Curiosamente, a polarização PT x PSDB às vezes ainda gera estranhos ódios: há tucanos que não conversam com petistas (afinal, “Lula é Mussolini”), e há petistas que assumem ar de denúncia quando se referem ao tucanato como “a direeeeeeita!”. Curioso, pois sabemos que tanto Dilma quanto Serra, uma vez eleitos, vão adotar as mesmas diretrizes básicas de governo: manutenção da estabilidade econômica, algum tipo de gerenciamento da miséria (esquemas do tipo Bolsa Família) e aliança com a parte da banda podre da política que lhe cabe. Isso para não falar da sórdida tendência que os membros de seus partidos têm de cuidar do Estado como se fosse um condomínio privado.
3 – Com Lula e o PT, consolidou-se a idéia de que o Estado é um papai provedor, e isso causa danos à política: o voto entra no esquema do “é dando que se recebe”, e a política passa longe de princípios ou projetos de longo prazo, reduzindo-se a uma sucessão de promessas rasteiras e troca de favores visando fins imediatos. Mas quem disse que com o PSDB é diferente ?
4 – Diante desse contexto – e sabendo que, seja qual for o resultado, a barbárie não irá vencer – começo a vislumbrar uma saída: diante da permanência da polarização PT x PSDB, votar sempre em quem for oposição, como forma de punir os escândalos da vez. Otimista, imagino que isso talvez resulte em moderação na prática de transformação do Estado em condomínio privado.
5 – Porém, é um erro partir das muitas semelhanças e concluir que não há diferença alguma entre PT e PSDB, Dilma e Serra. Em princípio, espera-se de um governo PT uma ênfase na distribuição, como exemplificado no governo Lula pela saudável tendência de aumento do salário mínimo. Porém, e a produção ? Os ventos internacionais favoráveis e a hábil ação de Lula na crise de 2008/2009 ajudaram a criar o clima de otimismo vigente. Mas, há algum plano que vá além de aproveitar a maré ? O país corre o risco de desindustrialização (mas corre mesmo ? qual o tamanho desse risco ?) e, sendo assim, não seria o caso de aproveitar o momento e adotar uma política industrial consistente, visando promover um profundo avanço no setor produtivo (para além da exportação de produtos primários ou semi-manufaturados) ?
6 – Em Serra, há uma promessa de valorizar a produção, embora nem sempre fique muito claro como. E a tão proclamada competência gerencial dos tucanos é altamente suspeita: veja a situação de caos prolongado em que a capital do Estado de São Paulo se mantém, após anos de gerenciamento tucano. Seja como for, a promessa de ênfase na produção traz a possibilidade de um resultado social que vai além do mero assistencialismo: aproveitar a expansão econômica e ampliar maciçamente o número de assalariados com carteira assinada. Mas isso basta ?
7 – Enfim, o que são as eleições ? Seu aspecto ritual me encanta: um feriado, um dia diferente, amplo movimento de pessoas, ruas cheias, encontros que se repetem a cada quatro anos. Por trás do rito, a lembrança: a coisa toda (o Estado, a política) deve existir em nome das pessoas, do “povo”. Para além da prática ritual das eleições, há que consolidar instituições que, de fato, ponham o Estado para funcionar em benefício dessas pessoas. Resta saber se a tarefa é possível.