quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Segundo aniversário


De onde vem a vontade de aprender ? Acredito que, em seus primeiros anos, a criança até se empolga com a escola, que satisfaz o seu desejo de tornar-se mais “espertinha”, portanto digna do afeto dos pais que a parabenizam pelas notas e pelo desempenho escolar em geral. No entanto, logo sobrevém o tédio: a criança amadurece, suas demandas afetivas deslocam-se para além do espaço familiar e, por essa época, a escola passa a divulgar um saber meramente instrumental. Uma multidão de atividades carregadas de lógica matemática, a descrição racional de uma infinidade de objetos do mundo e da melhor forma de utilizá-los visando o bem-estar do homem, uma coleção de objetos isolados que devem ser descritos e suas relações racionalmente explicadas, de preferência sem dar margem a nenhuma dúvida (afinal, como fazer provas depois ?).

Diante de cada pergunta, uma resposta; diante de cada dúvida, uma certeza; diante de cada conseqüência, uma causa. Observando a forma como se organiza o Ensino Médio e a exposição dos alunos a esse discurso ininterrupto de uma razão que tudo explica, eu me indago: onde ficam as incertezas e as surpresas ? Onde ficam as perguntas sem respostas ? Onde ficam as conseqüências sem causas ? Oras, tais indagações são importantes, pois é graças a elas que continuamos perguntando e, no limiar desse questionamento, encontra-se nós mesmos, como já sabia Sócrates. O problema é que não há muito espaço na escola para a indagação sobre o sujeito, e justamente numa época da vida – a adolescência – em que esse questionamento é fundamental.

A essa altura, difícil é a função do professor, que deve fazer renascer o desejo de aprender. Seus instrumentos incluem a sedução, através da enunciação de um discurso adequado aos seus ouvintes, e a identificação, pois os alunos devem reconhecer no professor o depositário de um saber que deve ser obtido. Desejo-sedução-identificação: o jogo do saber, como bem sabia Platão, traz junto uma série de riscos e, para o professor, o maior deles é a vaidade. Trata-se do saber-se amado, e é necessário um certo esforço para agir em conformidade com essa situação mantendo-se à altura do desejo de saber dos alunos, nada mais do que isso. Quanto aos alunos, o risco é a idolatria, primeiro passo para deixar de pensar por conta própria.

No seu segundo aniversário, lembro que o blog surgiu da vontade de alimentar esse desejo de saber, que nasce na sala de aula e que às vezes é limitado pelas restrições práticas que nos cercam. Sei que quanto mais alimento nos outros o fogo do saber, mais brilha o meu próprio fogo, e disso se extrai – assim espero – uma experiência compartilhada que ajuda a manter a vida de cada um de nós em constante escrutínio.

Feliz aniversário e obrigado a todos os alegres seguidores.

7 comentários:

Mariana Teresa Galvão disse...

Do primeiro aniversário:

Espero pelos próximos aniversários (e poder perceber as mudanças que aconteceram com você, pelos textos, e em mim, pelos comentários).

E quanto mudou, não foi?

Parabéns!

Will disse...

Feliz aniversario Blog =)
Fui ver Bixiga(musical) e aprendi uma musica astuta de parabens:
A-há......u-hú......Gian eu vou comer seu bolo!!!
Parabens, seu filho tem dois anos jah ti fofooooooooooooo.
No post d baixo vc falou do povo q cita Nietzsche e suas frases, eu tb tenho varias frases dele q nao entendi apesar d ter lido os livros e nao tenho ninguem pra me explicar, pobre will. Vc eh um mau amiguinho q nunca sana minhas duvidas e nunca opina sobre nadocka. Desabafei!!! E eu descobri como eh gostoso saber depois d velho, agora nao tem muita graça, parece q eh obrigaçao saber d tudo depois d uma certa idade. Se eu tivesse 12 anos e soubesse falar dois idiomas seria genio, depois d velho o maximo q ouviria seria: "Ah nao faz mais q a obrigaçao". Quero ser criança d novo =(

Honey and Milk disse...

Esse post abriu margem pra um comentário que eu já fiz aqui no seu blog mas acho que vale a pena repetir ( só que dessa vez algumas ideias estão mais sólidas, creio eu )
Antes de entrar no cursinho eu pensava que seria um ano inútil no que se tratava de cultura e amadurecimento intelectual. Acreditava que passaria 365 dias apenas estudando as mesmas matérias que me acompanharam ( e muitas vezes me atormentaram também) durante toda minha vida escolar.
Mas a vida é cheia de surpresas...deparei-me com aulas dinâmicas e muito interessantes e com professores fantásticos ( é é, você é legal)
Reencontrei essa vontade de aprender tão característica dos primeiros anos do primário!Vontade de pesquisar, correr atrás de mais informações e ler ler e ler!
E eu acredito que isso aconteceu justamente pelo despertar da dúvida, da incerteza.
Percebi pela primeira vez na minha vida que cabe a mim pensar e refletir sobre essas questões que ainda não tem resposta... e talvez encontrar uma solução esclarecedora e plausível...
Mas não culpo apenas meu colégio pelo desinteresse pelo estudo durante o ensino médio. Acredito que grande parte do problema seja a imaturidade (não que eu seja muito madura agora, mas tenho certeza que cresci muito esse ano )
Enfim, aproveitando queria te parabenizar pelo blog...sou frequentadora constante!
E também agradecer pelas aulas maravilhosas e por ter botado pra funcionar alguns neurônios meus que estavam inertes!
Beijoo gian!!

Ps: Quero ser igual a você quando eu crescer =)

Honey and Milk disse...

p s2 total : quero MUITO esse bolo da foto! NHAMI

Anônimo disse...

Não entendi o que é "manter a vida de cada um de nós em constante escrutínio". Mesmo depois de procurar no dicionário.
Essa capacidade restrita de certas pessoas viu....

Unknown disse...

Feliz aniversário para o seu blog Gigii!!
Um pedido: Um post sobre a história da Suíça. É um país maravilhoso e sempre fiquei pensando nas aulas de como ocorreu a unificação, se desde o começo ela era dividida em 3 partes... Ia ser muito interessante!

Anônimo disse...

Professor, gostaria de parabenizá-lo pelo aniversário deste pequeno e humilde espaço de colossal cultura e de questionamentos da singela internet.
No primeiro aniversário, estava eu na condição de vetsibulando que "perdia" tempo "útil" de estudos em seu blog e agora, no segundo aniversário, encontro-me aluno da SanFran, que ainda "perde tempo" em seu blog. Nisso apenas gostaria de ressaltar que apesar de algumas transformações, a essência continua a mesma (talvez seja uma resposta ao comentário da minha colega Mariana lá no topo).