segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sobre piratas



Qual o espaço ocupado em nosso imaginário pela figura do pirata ? Por quê – seja onde for esse espaço – a figura do pirata provoca fascínio, que quase sempre inclui o poder de sedução em que pese seu estatuto de marginal ? Sequer é necessário lembrar da imagem midiática do capitão Jack Sparrow de Johnny Depp, arrancando suspiros sabe-se lá de quantas pessoas.

Partindo de uma definição trivial, identifico o pirata como o fora-da-lei que age por conta própria. Seu tempo é histórico, a ameaça que poderia eventualmente representar acaba se dissolvendo em um passado mais ou menos nebuloso (afinal, com exceção do especialista, quem pode afirmar com precisão em que época atuavam ?). Claro, não me refiro aqui a fenômenos contemporâneos, como os “piratas” da Somália: grupos tão violentos e desesperados (e reais) que a própria denominação “pirata” nesse caso pede as aspas. Descartando os “piratas” contemporâneos, incluo no conceito de pirata imaginário a sedução e o fascínio.

O pirata imaginário é competente, excepcionalmente competente, tanto que obriga a mobilização de forças excepcionais para combatê-lo. Ele é o melhor espadachim, o melhor navegador, o estrategista mais habilidoso. Além disso, o pirata age desprezando convenções, e assim fazendo constrói uma identidade absolutamente singular. À bordo do navio pirata, encontramos personagens únicos como Long John Silver, Capitão Gancho, Tristeza Sangrenta, Rackham o Vermelho, Sam o Caolho e Tom Perna-de-pau.

(Sim, há sites que geram um nome pirata para você. Vários sites. Por exemplo, em http://www.piratequiz.com/result.php , após preenmcher um divertido questionário, descobri que meu nome pirata seria  Dirty Sam Kid.    http://pirate.namegeneratorfun.com/  produziu para mim, meio aleatoriamente, o impagável  nome “John ‘Pieces of Eight’ Blighty, o mão sangrenta da Ilha dos Macacos”.)

Piratas são diferentes dos homens uniformizados que manejam os navios da Coroa, daquela multidão de capitães e tenentes e marinheiros, todos eles anônimos e intercambiáveis, que servem fielmente ao Rei, e a ele obedecem sem pensar.

Dos piratas, invejamos sua independência, sua identidade, sua competência. Sabemos que, por serem criaturas singulares, criam suas próprias normas. Talvez seja exatamente isso o que neles mais invejamos. Queremos ser piratas, porém faço uma advertência: sabemos que é bem difícil viver em uma sociedade na qual cada um cria suas próprias normas, em que cada um se considera um pirata.

Mesmo assim, sigo preservando o culto aos piratas, porque sei que eles nos ajudam a lembrar a precariedade da norma, das avaliações estreitas e dos rigorosos métodos  administrativos, em tudo que podem ter de limitador e até de destruidor do trabalho criativo. O administrador da fábrica que nunca pisou no chão da oficina, o contador que não sabe trocar uma lâmpada, o pedagogo que jamais teve uma classe cheia diante de si, aquele que faz as leis trabalhistas e não trabalha... esses são os anti-piratas por excelência, avançando rapidamente na construção de um mundo administrado, entediante, sem graça nenhuma.

 

6 comentários:

Mariane disse...

Gian, vc acha que existe algum tipo de pirata hoje em dia/

Gian disse...

Não sei. O que vc acha ?

Mariane disse...

Enquanto lia seu texto pensei em algum tipo de pirata na internet, como o Assange ou o Snowden (esses seriam piratas bonzinhos haha), mas não sei se caberia chamar de pirata sem fugir muito da figura do pirata antigo.
Mas as vezes acho o espaço virtual bem parecido com um oceano, como a facilidade que alguns tem em burlar as leis dentro dele - pro bem e pro mal, como os piratas - até alguns termos como navegador e pirataria.

Unknown disse...

Morty Rackham

Unknown disse...

You have the good fortune of having a good name, since Rackham (pronounced RACKem, not rack-ham) is one of the coolest sounding surnames for a pirate. Arr!

Gian disse...

Lembra Tintin, "Rackham Le Rouge".