Enuncio três equações para ajudar
o pensamento:
+ 1 + 1 = 0
Trata-se de um procedimento
bastante comum na forma como se pratica o debate hoje em dia, e que resulta em
nada, absolutamente nada. É também expressão de um certo bom-mocismo bastante
evidente nesses tempos de redes sociais e forte demanda por “curtidas” como
forma de autoafirmação. Refiro-me ao veredito definitivo sobre um determinado
assunto que, uma vez elaborado e ungido ao estatuto de consenso, passa a ser afirmado,
reafirmado e reafirmado novamente. Inclui necessariamente juízos morais, e tem
como efeito uma certa satisfação pessoal. “Sou uma pessoa bacana, comporto-me
como a maioria civilizada em oposição aos outros”. Por um lado, está garantida
a satisfação individual, por outro, o entendimento não avança sequer um
milímetro – além de alimentar o maniqueísmo. Tudo é bacana, todos somos legais,
todos estamos juntos... e formamos uma grande nulidade.
+ 1 – 1 = + 1
Trata-se aqui do primeiro passo na direção do entendimento, que me parece intimamente ligado à força da negação: diante
do óbvio, a subversão; diante do pensamento de manada, sua negação. Reconhecendo-se
o potencial imensamente criativo da negação, surgem alguns riscos: só existirá
negação criadora de sentido se for elaborada contra uma unidade precisa. Ou
seja, a negação sem objeto é nada: – 1 = 0. Se no primeiro caso, mais acima, tínhamos
a nulidade produzida pelo entusiasmo positivo, aqui se encontra a nulidade que
resulta no silêncio, no fim da possibilidade de pensamento.
– 1 – 1 = + n
Trata-se da negação da negação
como forma de criação do entendimento. A
Dialética Negativa. Muitas vezes penso que é a única forma de entendimento
que nos foi dada como possível diante das nulidades que têm sido produzidas de
diversas formas ultimamente. Reforço minha crença no seu potencial quando me
deparo com a crise da verdade no novo século: se antes no debate havia a
oposição teórica entre verdade x opinião, hoje em dia chegamos ao ponto de ver o
embate descer no nível factual do confronto entre acontecimento x opinião. Cabe
ao pensamento retomar sua forma negativa radical justamente como tentativa
desesperada de se opor à política radical de hoje em dia que se alimenta da
falsificação do acontecimento e da formação de consensos vazios.
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