segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Com a Lua em Vênus (seja lá o que for isso)



O início da temporada de vestibulares fez com que todos se calassem, é como se todos tivessem parado de pensar para estudar loucamente (no que estão certos). Ao mesmo tempo, os últimos “alegres colóquios” não renderam muita coisa, e me vejo na obrigação de compartilhar pensamentos que tenho tido por conta própria – porém dos quais fazem parte esse nosso estranho convívio. A leitura apressada do livro de Theodor Adorno, As estrelas descem à terra (agora em português: São Paulo, Ed.Unesp, 2008) e alguns momentos de ócio matinal me levaram à reflexão que ando compartilhando por aí. Apesar de solitária, eu a compartilho: a alternativa é abandonar o blog temporariamente . De fato, o último post, com texto de Ítalo Calvino, foi quase solenemente ignorado pelos alegres seguidores do blog. Suspeito que se não puser nada de mim nos textos, ninguém dará a mínima atenção ao que escrevo.

Sigo Adorno ao meu jeito, falando de horóscopos e do que leva as pessoas a lerem horóscopos. Jamais chegarei ao grau de refinamento de Adorno, que diz coisas como: “O envolvimento com astrologia pode oferecer àqueles que se deixam levar por ela um substituto para o prazer sexual de natureza passiva. Em primeira instância, isso significa a submissão à força desenfreada do poder absoluto...” (p.47) e por aí vai. Mas, posso dizer que as colunas de astrologia propõem uma estranha relação entre o racional e o irracional, na medida em que mobilizam todo um obscuro campo de saber com uma finalidade eminentemente prática ou utilitária, sendo o utilitarismo o fim último de uma razão instrumental. Ao consultar meu horóscopo de hoje na Folha de São Paulo, descobri que a Lua está em Vênus, o que parece me trazer perspectivas extremamente favoráveis no campo sentimental (são 20h55, até agora as expectativas foram todas frustradas). Já em O Estado de São Paulo, fiquei sabendo que eu devo tomar cuidado ao julgar as pessoas, porque também serei julgado, conforme dizem os “livros sagrados”. Por não ser leitor assíduo desse tipo de Literatura, fiquei na mesma. Esperava algo mais prático, como aquelas colunas de horóscopo mais sofisticadas que separam as diversas esferas da existência: amor, trabalho, família.

O lado racional do horóscopo está em oferecer diretrizes para a ação de uma pessoa, visando, obviamente, seu bem-estar e sobrevivência. Assim, trata-se do primeiro antepassado da auto-ajuda. Isso nos leva ao leitor de horóscopo, identificado necessariamente como alguém inseguro, que precisa de tais orientações. Em outras palavras, alguém que duvida da própria capacidade de assumir o controle do seu destino, perdido diante de um mundo que aparece como ameaçador. Já a irracionalidade se encontra na fonte do discurso astrológico: um saber oculto, com forte dose de misticismo, e que ganha credibilidade justamente por essa base irracional. Explico: para um desesperado, se a condução racional da vida não está dando certo, sua condução a partir de princípios irracionais aparece como uma alternativa perfeitamente viável.

[Interlúdio pop: em Seinfeld, o personagem George Costanza, um fracassado por excelência, diante do colaaaapso de todos os seus projetos de vida, resolve simplesmente fazer o oposto de tudo que sua razão indica. Os resultados são hilariantes. Uma fina análise do episódio está em em Jason Holt, “The Costanza Maneuver: is it Rational for George to ‘do the opposite’?”; pp.121-138 in: W. IRWIN, Seinfeld and Philosophy – Chicago, Open Court, 2000; há em português.]

Observe a diferença entre a fonte irracional do discurso e o agir irracional: o astrólogo não sugere que se façam loucuras, quase sempre apontando uma conduta serena para a existência dos leitores; porém, a fonte desse aconselhamento permanece distante, obscura. Sua credibilidade provém não só do desejo dos que o lêem, mas de uma certa aura mística que envolve seu saber (um saber que está muito além do nosso conhecimento e do próprio conhecimento científico), seu discurso (carregado de metáforas e referências dúbias) e de sua imagem. Quiroga, astrólogo do Estado, se deixa fotografar ao lado de sua coluna diária, de olhos apertados (ou “olhar penetrante”, como queiram) e roupa preta fechada até o pescoço, em pleno estilo Paulo Coelho (o bruxo por excelência). Da mesma forma, a “vidente”, que trabalha sua imagem e que somente irá ler a sua mão em um local específico, cheirando a incenso, com luz diminuída (ela sempre atende por um nome meio cigano, meio exótico, Zoraide, Zuleika).

E aí chegamos ao ponto (sigo dialogando com Adorno). Há algo de muito semelhante entre essa relação racional-irracional proposta pelos horóscopos ou leitura de horóscopos e o processo que resultou na ascensão do nazismo na Alemanha da República de Weimar. No olho do furacão, encontra-se o alemão da época do Entre-Guerras, para quem nada parecia dar certo. Após uns quarenta anos gloriosos após a unificação, o mundo subitamente desabou na cabeça dos alemães: guerra, derrota, humilhação, revolução e guerra civil, hiperinflação. Quando parecia que as coisas iam melhorar, sobreveio a crise de 29, a Grande Depressão. Tudo dava errado. Nas palavras clássicas de Walter Benjamim (aliás, amigo de Adorno); “...porque nunca houve experiências mais desmoralizadoras que a experiência estratégica da guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação, a experiência do corpo pela fome, a experiência moral pelos governantes” (“Experiência e Pobreza” in Obras escolhidas. São Paulo, Brasiliense, 1994; vol.1, p115.)

Se a política tradicional e a ciência econômica, com toda suas racionalidades, não resolviam os problemas, algo de novo deveria ser experimentado. E eis que surgiu Hitler, com seu discurso tão pouco ortodoxo. Falando para as massas, Hitler dizia reconstruir o Reich (o terceiro), restaurando a grandeza do povo alemão, de raça superior. O sentimento völkisch dos alemães os diferenciava do resto da Humanidade, e bastaria afastar tudo aquilo que não era alemão – o comunismo, o judaísmo – para que a raça ariana triunfasse. O Geist (espírito) alemão era uma garantia de que tudo iria dar certo. (Lembremos de um episódio ocorrido já durante a guerra, quando os generais sugeriram que a indústria alemã passasse a copiar e produzir os tanques russos T-34, tão marcadamente superiores aos tanques alemães. A proposta foi rejeitada por Hitler, ao dizer que qualquer arma alemã era necessariamente superior às russas, por ter sido projetada por um engenheiro alemão, construída por um operário alemão e disparada por um soldado alemão: todos eles investiram um pouco do seu Geist alemão, seja no projeto, no apertar das porcas, no disparo da arma).

Hitler trazia além do discurso irracional, a imagem do enunciador místico. Lembramos dos estranhos rituais do Partido Nazista e sua simbologia rúnica; lembremos das cenas iniciais do filme de Leni Rifenstahl, Triumph des Willens, “O Triunfo da Vontade”, em que Hitler aparece como um enviado dos céus; lembremos das seitas místicas que diziam que Hitler era um medium. O resultado foi a entrega de toda uma nação a um indivíduo, partindo daí o exercício de um poder desmedido e assassino. Parafraseando Ingmar Bergman, em Ovo da Serpente: “Quem tiver o discurso e falar sobre as emoções terá todo o poder”.

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Agora posso completar a volta do parafuso. Ao lidar com pilhas de vestibulandos, encontro pessoas que estão em evidente situação de insegurança diante de um mundo que pela primeira vez parece ser ameaçador: há escolhas a serem feitas, elas dependem somente do sujeito, elas irão afetar toda sua vida. A incerteza passa a prevalecer, junto dela a insegurança, tudo que é sólido desmancha no ar. Será que todos os alunos de cursinho tornam-se, portanto, leitores de horóscopo ? Claro que não, mas cedem com uma facilidade estupenda ao canto da sereia de um discurso que trafega entre o racional e o irracional. Porque em sua vida surge o professor de cursinho, com seu comportamento muitas vezes excêntrico, fazendo coisas que as pessoas não costumam fazer, dizendo coisas que não se costuma ouvir por aí, mas ao mesmo tempo, despertando interesse sobre assuntos até então vistos com desdém, à luz de uma racionalidade explícita.

E aqui mora o perigo. Ao mesmo tempo que trafegam entre o racional e o irracional, os professores de cursinho vêem uma aura mítica criar-se ao seu redor. Pelos orkuts da vida, multiplicam-se as páginas de fofocas sobre professores, onde multidões de anônimos (sempre anônimos) constroem um discurso infinito feito de amores, ódios, lendas, intrigas, investigações sobre o passado, previsões sobre o futuro, especulações as mais diversas. Sem nunca chegar perto da verdade (tornada impossível pela própria multiplicidade de relatos ao mesmo tempo anônimos e contraditórios), essas páginas são um testemunho da mitificação dos professores, como o são as inocentes conversas sobre cursinho, de irmão mais velho com irmãos mais novos, ou até de pais para filhos, ou as breves aparições públicas do professor fora do espaço do cursinho, ou mesmo blogs de professores (tão desprezados quando não incluem um mínimo de desvendamento de suas personalidades).

Para provocar, eu diria que professores se tornam figuras míticas diante de pessoas inseguras, não é preciso muito para que passem a ser possuidores de imenso poder. Lembrem quantas vezes ao longo do ano alunos não sabiam o que fazer e simplesmente seguiram uma opinião do professor, ou mesmo fizeram aquilo que os professores queriam que eles fizessem. Em alguns instantes, os alunos de cursinho lembram a famosa frase de Goering ao Führer: “A partir de hoje, minha consciência chama-se Adolf Hitler”. Pensemos nisso e, sobretudo, pensemos que essa proposta de reflexão dá bem a medida dos riscos que corremos todos nós – no fundo, pessoas inseguras, todos, nós, sempre.

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Na foto, o Relógio Astronômico de Praga.

20 comentários:

Unknown disse...

Gian não pare de escrever no blog!
acredito q os inúmeros fiéis leitores só não estão postando :P

meu ponto de vista: as pessoas gostam de ficar observando a vida dos professores de modo semelhante ao q acontece quando ficam lendo fofocas sobre celebridades, pois, de uma certa maneira, os profs de cursinho acabam se tornando célebres. Fazem um "showzinho" no palco para uma platéia de alunos (a idolatria poderia ser então a causa de tal irracionalidade)

Pedro Gallo disse...

Gian,
Nunca comentei, mas acompanho o blog desde sempre. Estava esperando ter algo uma idéia que eu achasse interessante pra poder dizer aqui. Acho que esse idéia ainda não veio, mas vou comentar só pra dizer que gosto muito do blog e que realmente não gostei muito do último post(mais por não entendê-lo do que por outra coisa... xD). Contudo gostei muito do de hoje e não gostaria que você desse uma pausa no blog.

Quanto ao post, acho que por mais que estejamos na era do conhecimento, em que as ciências apresentam grandes avanços e a racionalidade está em destaque, temos que ter nossas crenças no irracional, pra ter um "suporte espiritual". Não sei. Mas que muitos, me incluindo, precisam de crenças irracionais não tenho dúvidas.

Willzito disse...

Nao comentei no post abaixo, pois nao tinha nada d relevante pra dizer(nao q eu jah tenha dito em algum outro comentario). soh posso dizer q ODEIO cigarro, odeio quem fuma perto d mim, odeio tomar banho, passar perfume, ficar lindo, fofo, cheiroso e ao chegar na balada vir um puto fumar perto d mim estragando minha produçao. Era mais ou menos isso q diria no outro post =(
"para um desesperado, se a condução racional da vida não está dando certo, sua condução a partir de princípios irracionais aparece como uma alternativa perfeitamente viável."
Pra mim isso d principios irracionais tem o nome: religiao(ou Deus). Me odeie por isso, mas sou ateu.
Hitler parecia ser o Messias, o salvador, mas Hitler sem Goebbels nao teria se mitificado tanto assim. Acho q os cristãos sao os Goebbels de Deus(viajei...)
Vc sabia q os horoscopos se repetem d tempo em tempo?? Exatamente oq vc leu no seu signo, estará em outro signo após meses?? Como ninguem lê TODOS os zodiacos(no maximo lêem do irmao, namorado, mae) ninguem percebe a repetiçao e ninguem vai pegar horoscopo d 6 meses atras pra conferir com o atual.
Nao pare o blog pq as pessoas nao comentam. Continue a escrever para vc ter uma memoria..daki 20 anos vc vai reler e muitas(ou nenhuma) d suas ideias mudarão, vc irá dizer:"Nossa eu pensava assim!!"

Suma disse...

Muito interessante esa reflexão Gian! Faz bastante sentido, e nos alunos lá do anglo dá, às vezes, pa perceber um nítido fascínio por certos professores. Mas não acho que a busca de fontes irracionais de conhecimento seja exclusivamente causada por momentos de insegurança. Acho que, no mundo em que vivemos, no qual o racional é extremamente valorizado, as pessoas muitas vezes buscam o irracional só pra variar um pouco. Um mundo que fosse perfeita e completamente explicável através conhecimentos pragmáticos e racionais não é muito atraente. Acho que a crença em coisas "inexplicáveis" (superstições, por exemplo) é uma necessidadezinha de todos, independente do estado emocional, apesar de que essa necessidade ppode, dependendo da situação, ser maior ou menos

Anônimo disse...

tem um livro analisando a filosofia nos episódios de Seinfield ...? haha!

Gian, eu gosto dos seus posts com ou sem pistas pra desvendar a sua personalidade =] eles são muito fáceis de ler e realmente inspiram reflexões profundas, de um jeito ou de outro.

No começo desse ano eu também fiquei meio assustada com a falta de privacidade dos professores de cursinho! Mas acho que faz parte da construção da imagem do professor pelo aluno. Uma troca justa, a idéia de cumplicidade pela confiança? Ah, não sei!

Alê Bezerra disse...

sessão desabafo com pedaçinhos de amendoas. rsrsrs.
o sr. hitler bem como o sr. bush (com a sua incrivel habilidade de como desviar-se de um sapato) são serem no minimo enigmáticos e estranhos. acompanhados por uma alta dose de romantismo.
xD

Unknown disse...

Gian,

Qual era a religião oficial durante o 3° Reich ?

Valew !

Marcus "Snop" Franca disse...

Gian, tenho sido um leitor anônimo desde o início de seu blog, o descobri dando uma “fuçada” em seu perfil com temas sempre muito interessantes (como uma forma de lembrar das melhores aulas que tive pois, ao contrário do que muitos pensam, poucas aulas na dita "gloriosa" SanFran, valem mesmo a pena... sempre, também, com imagens interessantes, principalmente a do mais belo relógio do planeta)! Lendo os textos sou levado de volta àquelas divagações de sala de aula (como no post sobre o American Choppers... gostava deles pois gosto de motos antiga... agora fico tentando perceber aqueles traços psicológicos dos integrantes do programa) que me instigavam a pensar e sair um pouco daquele mundo pouco subjetivo, frio, escuro, incerto que vivia durante os longos anos de cursim (época que, como você disse uma vez em sala, somos sempre obrigados a dar respostas racionais e nem sempre conseguimos dá-las quando nos é exigido - vide o dia da FUVEST que faz todo mundo ter dores de barriga... é aí que alguns vestibulandos buscam repostas em figuras míticas, para suprir com um pouco de irracionalidade e subjetiva o excesso de racionalidade e objetividade). Sobre seu último post, acho que ele casa bem com a idéia deste... pelo que entendi o texto trata dos caminhos e objetivos que queremos escolher para nossas vidas. Sempre procuramos coisas boas (utopia, cidade do sol, harmonia) porém essa procura é sempre cercada de incertezas, pois trata-se do futuro (por isso algumas delas não foram descobertas ou fundadas). Acho que horóscopos, a crença em Deus (deixo registrado a minha posição cética em relação a essas duas coisas, nem em tempos de cursim recorri a elas... acho que uma das razões pela qual fiz 3 ano de cursim... o excesso de racionalidade que na “hora h” – odeio essa expressão - acabava virando excesso de irracionalidade... penso que seria mais fácil de tivesse me guiado por alguma crença na medida em que, como tinha cumprido com meus deveres de estudante – tf e tm, sala A, bons simulados – no dia da FUVEST seria só deixar nas mão de Deus) servem para guiar-nos nestes caminhos, para que tenhamos um pingo de “certeza" de que nunca chegaremos a enoch, babilônia, yahoo!. Vejo, ainda no outro post, um traço interessante daquela vida de vestibulando. Na última fala de Polo, a primeira saída poderia resumir aquele aluno que tanto queria uma Universidade pública, mas talvez por seu excesso de conformismo e um pingo de alienação (muitas vezes é mais fácil “aceitar o inferno”), por sua falta de coragem para chegar a enoch tenta o caminho mais fácil (uma particular), não conseguindo superar o primeiro grande obstáculo que a vida lhe impõe e aceitando o inferno até deixar de percebê-lo (Gian, aqui um eufemismo para morte?). A segunda saída resumiria aquela pessoa que tenta sempre lutar para chegar a em utopia (Universidade pública) mesmo que algumas vezes faça uma escala em Yahoo! (bombas em vestibulares). Gian, peço que continue a escrever pois tenha certeza que seus alunos e ex-alunos, mesmo quando não estão lendo um texto que conta suas “aventuras pela vida”, apreciam seus caracteres derramados sobre uma página de um site (já sei, foi uma figura tosca). Será que interpretei certo (se é que existe só uma resposta certa... migué de estudante de direito que, apesar de ser franciscano, é humilde)? Bom, se você teve saco para chegar ao fim desta imensa porcaria, abração, bom fim de ano e até o próximo post!
Snop

Marcus "Snop" Franca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marcus "Snop" Franca disse...

ah... vc já percebeu que horóscopos sempre têm palavras chaves? Palavras polissêmicas que podem se encaixar em todas as ações do ser humano...

Raphael Felice disse...

gosto de horóscopos e análises de mapa astral desde que eles não substituam a sua própria consciência nem virem muletas. "sou assim pq sou de virgem" acaba bloqueando uma possível evolução pessoal.

aproveito para indicar o site "astrologia real" do quiroga. é menos "astrologia de fast food" do que outros.
mas acho que nada substitui os próprios estudos sobre astrologia.

um abraço, bárbara
(irmã do raphael ^^)

Unknown disse...

Assim como outros, nunca fiz nenhum comentário aqui por pensar que seriam desnecessários, ou até mesmo por não tê-los. Mas, ao ler o início do seu post, lembrei que incentivo é algo sempre muito bem vindo e, Gian, todos aqui gostam muito das suas, de certa forma, “viagens’’ portanto nada de parar de escrever.
Na minha opinião,a relação mística que há entre alunos e professores advém , principalmente , da capacidade destes de nos tirar da mesmice, fazer ver o mundo sob outros primas.Quando vejo um cara começar uma conversa sobre horóscopo, desenvolve-la e fazer um desfecho remetendo ao Nazismo, percebo que não é só entre o céu e a terra que existem muitas coisas que nossa vã filosofia desconhece, mas entre os próprios homens.(ou que pelo menos nunca imaginei). E é realmente interessante perceber as diferenças entre racionalidade, normalmente vinculada a momentos de relativa tranqüilidade, e irracionalidade, quando tudo aquilo vinculado a razão parece não ter a força de outrora.Nessa época de crise econômica e possível recessão talvez vejamos uma sociedade tendente à práticas pouco racionais.
Enfim, abandonar o blog será visto como uma forma de abandonar os próprios alunos Gian, e certamente ninguém aqui ficará feliz com isso!
Abraços( não são como os do Rauuulll, mas são sinceros)

Cah disse...

Gian, continue postando..! Seu blog é um passatempo tão útil quanto as horas de estudo. Nao sinto que perco meu tempo ao ler os posts.

Gian disse...

PASSATEMPO ??????????

Sentir disse...

Como sou peixes ascendente em peixes, vi de longe que era Praga.

Unknown disse...

Gian,
as atenções são devidamente dadas, sim, aos textos em q há muito pouco de vc.
Acredito q essa época de provas contribuiu bastante para o duvidoso insucesso do último post. Particularmente no meu caso (li q em alguns outros tb) acho q o q mais pegou não foi nem o batalhão de provas e nem a falta da sua autoria para desvendar sua personalidade, foi sim o meu restrito repertório cultural! rs Não conhecia o tal Ítalo Calvino e mto menos o livro, diante disso acho q fica um pouco difícil tecer qualquer comentário. (msm tendo gostado bastante do finalzinho do texto)
Apesar de toda a minha indesejada ignorância, esses posts q vc julga serem "solenemente ignorados pelos alegres seguidores do blog" ajudam muito a aumentar a minha bagagem cultural. É só somar alguns nomes de livros, autores, quadrinistas, com toda minha curiosidade e o amado googgle q dá uma bela tarde de diversões pós prova. (Diga-se de passagem os “alegres colóquios” me rendem pesquisas até hj,tenho lá minhas suspeitas mas o q acabei descobrindo mesmo é q o Google apesar de muito eficiente não é a melhor das fontes.)
Enfim, tudo isso pra me juntar a esse povo bacaninha aqui de cima e pedir (de novo) q vc continue com seus ou outros textos. Com ctz eles nos ajudam mto, de uma forma ou de outra, sendo suprindo a insegurança de alguns ou a curiosidade de outros.

Qnt aos horóscopos ou tudo q envolva misticismo ou fé......
Acho no mínimo curiosa sua existência principalmente por estarmos num tempo onde até o 2+2=4é explicado e comprovado por vias racionais q não exigem o mínimo de boa vontade do camarada. Conversandinho com uma amiga ,ontem, q é fã de um programa na TV cultura o café filosófico, ouvi sobre uma discussão,no domingo passado, em q um dos moços discorria sobre a enorme quantidade de escolhas q somos obrigados a fazer durante a vida e as suas conseqüências q, sem dúvida nenhuma, são de nossa total responsabilidade. E q todo esse mundo de irracionalidade e fé por possuir explicações sempre misteriosas talvez tivesse a função de amenizar os sofrimentos e a carga de responsabilidade do homem. Nos dias de hj,porém, devido à liberdade conquistada e à toda a diferença do cenário cultura nos perdemos nas escolhas entre o racional e o irracional e muitas vezes a credibilidade do mundo mítico (q nos apoiaria até então) cai por terra. Assim entramos em conflitos os quais possivelmente sejam os gnds responsáveis pela tal insegurança do homem de hj e pior pelas doenças modernas q assolam a sociedade- depressão, insônia, síndromes......
Faz sentido mas acho q preciso pensar um pouco mais sobre o assunto....... (aliás, esse livro do Adorno é muito difícil Gian ?!)

[Desabafo : eu não tenho a maior fé do mundo e ceticismo é uma palavra muito forte, tenho lá minhas crenças, minhas superstições, leio horóscopos de vez e nunca mas nunca me atraí por essa imagem q vc descreveu.........o cheiro de incenso, nomes inusitados, luz diminuída e tal............ tem um restaurante ali na liberdade acho q até conhecido, o Nandemoya, nos finais de semana ele é lotado e fica uma fila gigante pra vc poder se servir. Existe, no local onde todos esperam, um senhorzinho japonês q pratica a quiromancia. Ele fica num cantinho com uma mesinha pequena e um monte de fotos e papéis com explicações (eu acho, pois são todas em japonês). Foi a primeira vez q tive vontade de deixar alguém ler minha mão e descobrir minha sorte............Curioso, msm com sua inusitada presença, o ojji-san era a pessoa menos mística do local, talvez tenha sido justamentente essa peculiardade q me chamou a atenção.....]
Já qnt ao resto, só digo uma coisa, q medo do seu poder de verdade viu ....... medo mesmo.......

Gian disse...

Adoro longos comentários. Lamento não poder responder a todos como deveria, mal tenho conseguido escrever textos decentes (ou mesmo pensar) a cada CINCO dias.

Vejo que o resultado é uma repetição da aula: enuncio o discurso e deixo vcs ruminando. Pois que siga assim, é importante que ruminem. Sigo Nietzsche, que que dizia querer leitores como vacas, "amigos do lento".

Cold Heart disse...

Astrologia é uma coisa meio gozada. Tem lá os seus sentidos e suas graças nos horóscopos de revistas e afins, isso não nego. Tenho até um mapa astral escondido em algum lugar de casa, em que a partir do dia e do horário exatos do nascimento o astrólogo (ou um programa) escreve 28347234820346 de coisas sobre a pessoa: como nasceu com a Luz aqui e o ascendente em acolá, tende a sei lá o quê. Aí aparece um monte de gente falando que é ciumenta porque tem um Escorpião em alguma dessas "casas" ou qualquer outra coisa.
Faz muito tempo que li meu mapa astral, mas lembro-me que ele dizia em que áreas tendo a trabalhar, com que tipo de pessoas tendo a me relacionar, o que esperar de namorados, o que esperar das minhas ações e etc. A impressão que tenho dele, e dos horóscopos, testes de guia de profissão e de personalidade (o que as pessoas mais buscam é quem elas são, como elas são, coisas que não sabem ou julgam não saber direito) é que a partir do que é geral eles formam uma ideia que é tomada como pessoal. E essa ideia é tomada como linha de vida, linha de pensamento ou qualquer outra coisa que norteie as ações do indivíduo. Acho essas coisas meio perigosas...
Agora estava fuçando o horóscopo escrito por uma revista teen e vi que ele não só dá a "previsão do dia" como também o perfil de cada pessoa do signo. Nada melhor ou mais forte para fazer com que uma garota insegura se torne algo quadrado para encaixar direitinho na descrição. Essa é uma das coisas que fazem com que a personalidade da futura adulta se perca um pouco, acho. É o que você disse: inseguros, precisam que alguém tome as rédeas de seu próprio destino, sejam outras pessoas, sejam os astros, sejam revistas toscas.

É engraçada a relação entre alunos e professores num cursinho. No meu primeiro ano (damn), fui para o cursinho esperando professores normais que dessem aulas normais e se importassem com os alunos tanto quanto... Folhas secas no chão e vento. Foi muito estranho ver garotas e gays se dizendo apaixonados pelos professores (e plantonistas também). No começo, pensei que fosse fetiche, sei lá. Depois, pensei na idolatria, na admiração exacerbada à criatura que estava em cima do tablado. Agora me lembro de um outro texto seu, em que uma mulher disse a você algo como "inteligência seduz mulheres". Talvez elas tenham sido realmente seduzidas. E aí tenham virado stalkers malucas que investigaram ao máximo a vida dos professores que admiravam e começaram a dispersão dos boatos esquisitos.

Outra curiosidade minha é até que ponto é só uma personagem incorporada e a personalidade de vocês, professores. Observo os professores quando chegam na sala, sobem no tablado e quando descem dele, e a mudança que acontece geralmente é grande. Lembrei-me de quando ajudei a minha tia na loja dela como faz-tudo, inclusive vendedora. A cada vez que alguém se aproximava da porta eu respirava fundo e tentava virar a pessoa mais feliz e simpática do mundo para cativar a pessoa. Na maioria das vezes era de verdade, o gosto de realizar uma venda, mesmo sem remuneração (de parente não se cobra) era ótimo. Noutras, não era desse jeito: o cliente era chato ou antipático, ou sei lá. Pergunto-me se com vocês, professores de cursinho, é a mesma coisa. O tratamento dado é o de uma pessoa que vende/presta um serviço à outra? É natural ou dissimulado?

Cold Heart disse...

Na maioria das vezes os alunos não sabem como fazer. Não sabem como estudar, como fazer suas anotações nem como levar o dia a dia. Por isso levam a sério o que os professores dizem, porque vocês têm mais experiência e devem saber melhor do que nós. E é por isso que a maior parte dos alunos copia os esquemas e afins exatamente da forma como foram escritos. Se vão entender depois não importa, se são necessárias outras anotações para compreender o que tá escrito não importa também. Simplesmente copiam, simplesmente obedecem.
Falando nisso, o adestramento dos alunos no Anglo é menor do que no Etapa. Lá, havia algumas palavras que, quando ditas ao microfone, a maioria dos alunos gritava em uníssono alguma coisa, mesmo que interrompesse a aula. Não importava, foram treinados para gritar "Chupa", "Quatorze" ou "Virgem", dentre outras. Isso me irritava demais, pqp.

Cold Heart disse...

Tem tantos pedidos aqui para que você não pare de bloggar que acho que tem alguma coisa aqui que não "peguei". Seja como for, lá vou eu rogar também: não pare de escrever. Mesmo que não encontre comentários em textos, sempre há leitores. Talvez não no plural, mas uma leitora assídua clica na Barra dos Favoritos todas as noites e, se não for à noite, é de manhã. Os comentários são tecidos em pensamento e de vez em quando resolvo redigi-los (não sei o porquê). Acho bobo escrever "gostei do texto" ou "identifiquei-me pacas" ou qualquer outra coisa do gênero sem acrescentar nada, e tem alguns textos que simplesmente não sei o que dizer depois de ler, ou porque bate com minha linha de pensamento ou porque preciso matutar mais sobre o assunto.

Gosto de ler o que você escreve. E se você gostar de ler comentários como "gostei do texto" ou "identifiquei-me pacas", comentarei todos eles com pelo menos um comentário. Só... Não pare de escrever.