Não resta a menor dúvida, o blog não existiria sem os encontros, debates e conversas, sejam em sala de aula ou pelos corredores, em exposições de arte ou em uma mera padaria, com alunos ou sem alunos. Daí a referência constante aos alegres colóquios, sempre citados e agora assumido como o novo nome do blog. Aqui, uma explicação: o blog nasceu mais ou menos por acaso; quando comecei, eu mesmo duvidava da minha capacidade (técnica) de fazer um blog, manusear um blog, me dedicar ao blog. Escrever textos sempre foi o menor dos problemas nessa história toda.
No meio do seu processo de construção, fui preenchendo os pedidos que apareciam na tela mais ou menos ao acaso. O nome Angelus Novus surgiu naturalmente, trata-se de uma daquelas referências que sempre tenho em mente, é uma citação que reflete minhas preocupações habituais. O texto de Walter Benjamin sobre o anjo da história é o item 9 em “Sobre o conceito de história” (Obras escolhidas, vol.1; S.Paulo, Brasiliense, 1985). Copio todo o item:
“Minhas asas estão prontas para o vôo,
Se pudesse, eu retrocederia
Pois eu seria menos feliz
Se permanecesse imerso no tempo vivo.”
(Gerhard Scholem, Saudação do anjo)
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.
Deixo a imagem de Paul Klee no canto da página, para lembrar a origem do blog. Quanto aos “Alegres Colóquios”, a expressão aparece em Platão, na Carta VII, conforme citado na descrição do topo da página, e sem dúvida reflete melhor o espírito do que acontece por aqui. Aliás, o fragmento da Carta ainda tem o charme de fazer uma referência à “esfregação”, quem foi meu aluno sabe do que estou falando.
Aos alegres seguidores do blog, feliz 2009.