domingo, 15 de maio de 2011

Oh, shyn Higienópolis !

Se me perguntassem quais os maiores problemas da cidade onde moro, não hesitaria em responder: violência e pobreza, feiúra e um trânsito impossível. Deixo a violência e a pobreza para outra ocasião: são dois problemas imensos cuja solução está além da esfera de atuação da administração municipal e, portanto, menos sujeitos a atuação cotidiana dos cidadãos, bem diferente da feiúra e do trânsito.

Décadas de escolhas erradas fazem do trânsito de São Paulo ser o inferno que é. O postulado do urbanismo – já provado desde as reformas de Robert Moses em Nova York na década de 1960 – segundo o qual avenidas “criam” o seu próprio trânsito, tem sido ignorado desde há muito. O furor pavimentador bem como a idéia de que o prefeito deve deixar grandes obras para a população (de preferência concluídas durante o mandato de quatro anos) faz com que realizações de longo prazo, como o metrô, sejam solenemente ignoradas, incluindo aí o descaso do governo estadual. (Sempre lembrando a bela oportunidade de “fazer caixa” que uma grande obra viária proporciona em apenas quatro anos) Ao mesmo tempo, o desprezo com a estética faz com que a cidade seja uma das últimas do mundo que ainda tem fiação elétrica aérea, tornando a paisagem uma verdadeira plantação de postes de concreto irremediavelmente desalinhados e carregados de uma fiação pesada, suja e a cada vez mais densa.

Por trás desses descalabros, a mentalidade paulistana que valoriza o privado em detrimento do público. Se eu consigo ter ( = pagar por) um espaço privado satisfatório, para que me preocupar com o público ? Se eu tenho um belo automóvel – que me permite passar como um raio pelas ruas feias e cheias de gente, de preferência por um túnel – para que me preocupar com transporte coletivo ?

A cidade é um lixo, é só vai começar a deixar de ser com uma mudança de comportamento. Falo da necessidade de volta às ruas, de valorizá-las como local de encontro e não só de passagem. Por que Paris é legal e São Paulo não é legal (excetuando-se os lugares privados, claro) ? Porque as ruas de Paris são legais, andar pelos bairros - qualquer bairro - é legal. Oras, o espaço público deve ser convidativo e não agressivo, e um ponto de partida é lutar pela sua estética: calçadas regulares, fiação elétrica subterrânea, mais verde. Por que não aproveitar a queda na criminalidade (peraí, alguém acredita nos números oficias ? Bem, são os que temos) e promover o retorno às ruas ? Sair dos carros e ocupar as calçadas. Disso tudo faz parte valorizar o metrô. É a nossa única saída. “Ah, mas o metrô é cheio”; lógico, as linhas são poucas. “Ah, mas metrô é solução para longo prazo”; ok, faz vinte anos que acompanho o debate público e ouço esse argumento, já está mais do que na hora de fazer algo a respeito, não ?


Essa semana, alguns moradores de Higienópolis rejeitaram uma estação do metrô planejada usando como o argumento o fato de que traria muita gente e muita movimentação para o bairro, isso para não falar da possibilidade de instalação de comércio de rua, de camelôs, diante do local da futura estação. Amigo meu, morador do bairro, disse com convicção: “Queria ver se fosse você, que tivesse que conviver com um camelódromo na porta de casa”. Péssimo argumento, porque eu adoraria ter uma estação na porta de casa. Um estação do metrô não é sinônimo de camelódromo. Ter na porta de casa duas ou três barracas precárias é um preço mínimo a se pagar por mais metrô na cidade. Dizer “não” ao metrô, sob que circunstância for, significa contribuir para que a cidade continue um lixo. A forma como os bravos moradores bravos de Higienópolis reagiram denunciou sua excepcional opção pela afirmação do interesse privado diante do público, justamente em assunto vital para a cidade.

4 comentários:

Mariane disse...

sobre essa necessidade de volta as ruas, acho q depende muito mais de iniciativa governamental do que da população em si, tem rua que é tão mal feita que é ruim até pra andar na calçada, e a nossa falta de costume de frequentar espaços públicos é meio que consequência de não haver espaços públicos convidativos em todos os lugares, são poucos e a maioria é concentrada em uma parte da cidade...
sempre que eles existem mtas pessoas os frequentam...
sobre a feiura de sp, é bem oq vc disse em alguma aula, "sp é uma cidade de engenheiros e não de arquitetos", lendo seu post lembrei de uma reportagem com um quadrinista X ai, que veio fazer uma HQ sobre/em SP, e ele disse que a primeira impressão que teve quando chegou é que sp era uma cidade cinza... acho que é esse um dos motivos pelos quais o grafite é tão popular aqui, é como se fosse um resquício de vida no meio de tanto concreto, um pouco de cor no meio de tanto cinza, de tanta construção igual
sem dizer tbm que além de feia, é uma cidade suja, como no centro velho, que é LINDO, mas tem que reparar além da sujeira e do mal cheiro
sobre essa coisa toda de higienopolis, ñ sei oq é mais absurdo, alguem fazer um abaixo assinado desses, pessoas assinarem ou o metrô dar ouvidos...

Mariana Teresa Galvão disse...

Você deveria ter ido ao churrascão da gente diferenciada... Foi uma delícia, oh!

Fala assim pro seu amigo:
"Ei, vizinho, vem comer um churrasquinho!"

Unknown disse...

Eu li sobre esses moradores que assim como seu colega, foram contra a estação de metro pelo fato de que esta traria desordem(causada por fatores como o comércio irregular e MAIS transito na região) mas ao que me parece a notícia foi publicada com um parecer de cwrta forma equivocado (para não dizer ilusório) , porque pelo menos com relação ao que tenho lido sobre a opinião de um GRANDE grupo de moradores da região (publicada numa imprensa comunitaria judaica) a idéia de que a estação fosse criada em outro local vinha do pensamento de que outras regiões da cidade são mais carêntes de uma estação de metrô em suas proximidades do que o bairro do higienópolis, que já possui duas delas, uma da linha verde e uma da linha vermelha na sua região,ambas sem problemas de super-lotação como tantas outras na cidade.

PS:Só para deixar claro, EU MORO NO IPIRANGA e sou feliz por ter uma estação próxima do meu apartamento,que teve seu valor quase que dobrado graças a simples presensa desta!por mim podem fazer esta que seria em higienopolis, aqui! não tem problema!

Will disse...

Pelo oq sei o metro valoriza uma regiao e nao o contrario, gostaria q o metro fosse feito ali soh pra contrariar quem nao quer. Se bem q acho q poderia ser construido em outro lugar q realmente precise(bairros mais afastados do centro).
As pessoas preferem carros particulares e taxis ao metro e onibus nao soh pelo conforto, mas pela segurança. Andar a pé em Sao Paulo é perigoso, esperar num ponto d onibus a noite sozinho nem pensar, assaltos, violencia, sao fatos q afastam as pessoas do transporte publico. Dentro do seu carro vc ta mais seguro(??), evita contato com pessoas(potenciais mal feitores hehehe) e nao precisa esperar em pé o onibus(espera sentado no transito q eh melhor). podem construir zilhoes d km d metro, se nao tiver segurança em Sao Paulo, o medo vai prevalecer sobre a razao.