quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Jeff Koons em Versalhes


Publicar material inédito é a última coisa que eu imaginava quando comecei o blog. O texto abaixo é parte de uma matéria de Isabel Brandão sobre a polêmica exposição de Jeff Koons no Palácio de Versalhes (de onde foi tirada a imagem acima).


Ainda faltava muito para o dia 10 de setembro e a ministra da cultura da França já havia recebido uma carta exigindo o cancelamento da exposição de Jeff Koons, o artista vivo mais caro do mundo, no palácio de Versalhes. O ultimato era assinado por um tal de Arnaud-Aaron Upinsky, presidente da União Nacional dos Escritores da França, uma associação que, segundo ele, já contava com 400 membros, mas ninguém até então ouvira falar. Para Upinsky, que também é autor de livros esotéricos, esta exposição na sede da monarquia absoluta francesa é, além de uma “ofensa à obra de Luís XIV”, uma “mácula no que nosso patrimônio e nossa identidade têm de mais sagrado”.

Ideologias à parte, Upinsky mal sabia que Jeff Koons não só é considerado por especialistas o mais barroco dos artistas contemporâneos, como Luís XIV é uma das suas fontes de inspiração. “Puppy” (1991) é fruto de um devaneio do artista americano de 53 anos com o Rei-Sol. “Eu me perguntei ‘pela manhã, quando ele acordasse, qual fantasia gostaria de ver realizada antes do anoitecer”, explicou às dezenas de jornalistas presentes no dia da abertura da sua primeira exposição individual na França. A resposta imaginada por Koons, que nega ser um artista kitsch, foi uma escultura de 12 metros em forma de cachorrinho, inteiramente coberta por 90000 plantas vivas.

Um trabalho semelhante à “Puppy”, “Split Rocker” (2000), metade dinossauro metade pônei, enfeita ainda mais o jardim por onde a Corte Real passeava diariamente. Para os contestadores do evento, “Split Rocker” foi dos males, o menor. Quinze das dezessete obras selecionadas foram instaladas dentro dos aposentos do rei e da rainha. Até o fim da exposição, em dezembro, os visitantes do palácio de Versalhes pagam um e, queiram ou não, levam dois.

No salão de Marte, onde vez ou outra se realizavam bailes, “Lobster” (2003), uma lagosta inflável de dois metros de altura, foi - tal qual um lustre - preso ao teto decorado por Charles Lebrun, pintor favorito de Luís XIV. A escultura de mármore do rei à moda antiga, no salão de Vênus, é ofuscada por uma outra em porcelana dourada de Michael Jackson e seu chipanzé (“Michael Jackson and Bubbles”, 1988). Mais adiante, um vaso de flores (“Large vase of flowers”, 1991) enfeita o quarto onde Maria Antonieta dormia.

A aposta dos jornais para este cômodo era bem diferente da escolha de Koons: alguma das esculturas da série (“Made in Heaven”) em que o artista reproduz o “Kama Sutra” com sua ex-mulher, a porn star (e senadora nos tempos vagos) Cicciolina, cairia como uma luva sobre a cama da rainha decapitada. Os jornais botaram ainda mais lenha na fogueira ao questionarem as motivações da escolha de Jeff Koons pela administração do palácio de Versalhes. Liguem os pontinhos: a exposição foi quase inteiramente financiada por dois dos maiores colecionadores de Koons no mundo, o americano Eli Broad e o francês François Pinault. Jean-Jacques Aillagon, o antigo ministro da cultura e atual presidente do palácio de Versalhes, já administrou a coleção de François Pinault. O sucesso de uma exposição influencia positivamente a cota de um artista no mercado da arte.

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Isabel Brandão, 24, é jornalista e estuda História da Arte na Sorbonne. Já colaborou nas revistas Piauí e L’Oeil, bem como no site http://www.artclair.com/ . E ela não está dançando só.

6 comentários:

Unknown disse...

Uhuuuu, Jeff Koons causando na França!
Melhor q o "Liguem os pontinhos" da jornalista( meu Deusss só 24 anos???!!! e eu aqui ainda! rs) só o enooooorme “Split Rocker”! rs

Unknown disse...

Giannnn será q o Jeff Koons não fica com uma magoazinha de ser taxado de "rei do kitsch", não?!

Gian disse...

talvez fique. mas acho que também tem aquela coisa de "bem ou mal quero mais é que falem de mim".

Unknown disse...

Gian , foi excelente o concerto hoje lá no Ibirapuera da orquestra da rádio de Moscow. Ainda mais ao tocar Abertura 1812, op. 49 do Tchaikovsky. Fui lembrando ao decorrer da sua aula de Napoleão. Ah... so faltou os tiros de canhão haha , mas ta valendo.

Gian disse...

Não tinha canhão ? Como eles fizeram ? Bom, fiquei sabendo que em 2009 a OSESP vai apresentar a Abertura 1812 na Sala São Paulo. Acho que em agosto. E, mais legal: vão tocar o Zaratustra de Strauss, talvez em novembro. Recomendo VIVAMENTE.

Unknown disse...

Ia ser sensacional ver os canhões mas fiquei sabendo q a OSESP não vai usar....acho q talvez por não ser mto viável, q pena né!
Mas de qualquer forma só pela Abertura e pela orquestra já vale a pena ir!