quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Sergei Eisenstein (1898-1948) e Leni Riefenstahl (1902-2003)


Nos últimos dias, falamos do totalitarismo, que tem como um de seus elementos integrantes o emprego dos meios de comunicação em massa seja para exaltar a figura do líder, seja para fazer propaganda do regime. Na primeira metade do século, duas das formas mais atuantes de comunicação em massa foram o rádio e o cinema, e tanto o regime nazista quando o stalinista fizeram uso desses meios em larga escala. Nesse contexto, destacam-se dois diretores de cinema que aliaram seu engajamento com o regime com um virtuosismo e espírito de inovação poucas vezes visto no cinema.

O russo Sergei Eisenstein nasceu de família abastada, e mesmo assim envolveu-se na revolução a partir de 1918, como soldado na Guerra Civil contra os exércitos brancos (contra-revolucionários). Em 1923 iniciou-se no teatro e rodou seu primeiro filme dois anos depois. Deve-se destacar que nos primeiros anos do regime soviético as artes tiveram um grande desenvolvimento, antes que o modelo estético stalinista passasse a dominar a produção cultural em geral. Se o socialismo era o futuro da humanidade, as artes futuristas (desde o cinema até a pintura abstrata) participavam do clima geral de renovação da sociedade com grande destaque. Foi por essa época (1925) que Eisenstein filmou sua obra prima, O Encouraçado Potemkin. O filme trata de um episódio dramático da fracassada Revolução de 1905, e apresenta inovações técnicas impressionantes, por exemplo, nos campos da edição e montagem. Seguiu-se o grandioso filme Outubro, parte das comemorações do décimo aniversário da revolução.

Após uma curta estadia nos Estados Unidos, meca da indústria cinematográfica mundial, onde não conseguiu emplacar nenhum projeto, Eisenstein retornou à União Soviética quando os rigores do stalinismo eram cada vez mais intensos. A aproximação da guerra resultou na produção de filmes anti-germânicos e nacionalistas, como Alexandre Nevski (1938) e Ivan, o terrível (1942-45, já durante a guerra). Nessas suas últimas grandes produções, a interferência do próprio Stalin resultou em diversas alterações no projeto original e na dificuldade de condução do filme de forma autônoma.

A cineasta alemã Leni Riefenstahl, por sua vez, contava com plena confiança do Partido Nazista para dirigir seus filmes. Após um início como atriz nos anos 20, Leni Riefenstahl fez alguns experimentos na direção e foi rapidamente convidada por Hitler para documentar o comício do partido em Nuremberg no ano de 1934. O resultado foi o filme O Triunfo da Vontade, que mostra claramente um dos aspectos da “estetização da política” conforme comentado em aula: o comício é plasticamente belo, coreografado e impregnado de dramaticidade, feito para impressionar a multidão que lotava o estádio. Em 1936, a cineasta alemã foi escolhida para produzir um documentário sobre as Olimpíadas daquele ano em Berlim, e o resultado foi o filme Olympia. Nos dois filmes citados, o preciosismo técnico é aliado a constantes inovações, especialmente no posicionamento das câmeras e enquadramento.

Após a guerra, Leni Riefenstahl disse desconhecer os crimes do nazismo, afirmando sua inocência diante das acusações de ter promovido o regime. Seja como for, sua carreira praticamente terminou: ninguém mais ousava se patrocinar ou mesmo se aproximar da cineasta do nazismo. Suas últimas obas foram politicamente “neutras”: nos anos 1970, fotografou tribos africanas no Sudão (de onde foi tirada a imagem acima; algumas das fotos tiradas na Àfrica trazem estranhas semelhanças com as imagens de corpos nus ou semi-nus no filme Olympia) e, mais tarde, ao completar cem anos de idade, distribuiu um documentário sobre a vida nos oceanos, seu último filme.

4 comentários:

Vinicius disse...

Esses filmes são fáceis de encontrar ou foram enterrados com os restos mortais de Stalin e Hitler??

Gian disse...

Eisenstein tem em locadora boa, já Riefenstahl é mais difícil.

Unknown disse...

Gian, vale a pena conferir esse evento?
http://www.auditorioibirapuera.com.br/detalhe_eventos.aspx?id=238

Gian disse...

Acho que sim. Confesso que nunca os ouvi, mas soa promissor.