Copa é colorida
Quando menos se espera, uma
multidão de estrangeiros anda por aí. E a cidade de São Paulo, pouco acostumada
com a experiência, ganha novas cores. Colombianos no Veloso, japoneses na
Liberdade (onde mais ?), alemães na Vila Mariana, norteamericanos mais ou menos
por toda parte. Somando-se aos haitianos que começaram a chegar nos últimos
meses e agora passam a encontrar trabalho por aí - fenômeno mais ou menos comum
por onde ando - vejo uma cidade alegre e coberta de novas cores.
Copa tem uma cor só
Todos falaram das plateias da
Copa, brancas como a Lua. Mas e as criancinhas que entravam junto com as
seleções ? Uma multidão de pequenos arianos, com uma ou outra exceção. Como
foram escolhidas essas crianças, houve algum critério ? Será que privilegiados ou poderosos
em geral conseguiram furar esses critérios para nomear filhos, netos e
sobrinhos ? Uma pista: aqueles dois ou três moleques grandes que vi, certamente
pra lá dos 10 anos de idade, certamente furaram algum critério.
Copa é legal
A quantidade de jogos
emocionantes e de jogadas de alta técnica empolgaram qualquer um, até mesmo os
menos interessados no esporte. Os gols espetaculares, o destaque dos goleiros mesmo num torneio com
muitos gols, as inúmeras tragédias homéricas - do guerreiro caiçara ferido com
um joelhaço ao Apolo português desclassificado na primeira fase, do oriental canibal à deprimente epidemia de lágrimas
que afligiu jovens adultos brasileiros -, tudo fez dessa Copa uma experiência
inesquecível.
Copa é uma merda
O grande objetivo é a grana, que
vem com a vitória. Para atingi-la vale qualquer coisa, e aqui entra aquele horrível jogo de cena que consiste em cavar faltas, dramatizar qualquer
contato, puxar camisas, sair dando cotovelaços e por aí afora. O futebol
transformou-se na grande arte de enganar os outros. Quando nosso ator mais habilidoso caiu gritando atingido por um joelhaço nas costas, a dois centímetros de
distância de uma trágica paralisia, permaneci indiferente: já havia visto
aquela careta de dor inúmeras vezes.
Cool memories
No começo, não dava bola para
futebol: para o menino, futebol era para jogar na rua ou inspirar dramáticas
partidas de botão. Quando me perguntavam o time, dizia, meio indiferente, “Corinthians”,
talvez para ter mais amigos. Aos 11 anos, intuí que torcer de verdade para um
time e acompanhá-lo seriamente era pré-requisito para ter algo parecido com uma
“identidade”. Assim, meio aleatoriamente, tornei-me sãopaulino.
Veio a adolescência e as idas ao
jogo de futebol, bem como as bandeiras, os ônibus lotados e os estádios – cheios sob o sol
do verão e vazios nas noites de inverno. Porém logo percebi que mais torcia contra o meu time do que a favor:
irritava-me ver o time querido jogar tão mal. Com os amigos, assistia
outros jogos de outros times, e vibrava com boas jogadas e o bom futebol,
independente da equipe. Logo, concluí que torcer
era algo meio sem sentido, e passei a usufruir do futebol sem paixão clubística
(um sintoma de irracionalidade do qual desconfio), e aqui encontrei meus melhores momentos com o
futebol. Sendo assim, adorei os jogos da Copa e o 7 x 1 foi um dos jogos mais
espetaculares que assisti em todos os tempos.
PS
Mais sem graça que chamar
argentino de hermano, só mesmo chamar São Paulo de sampa.