Qual era seu brinquedo de construir preferido quando criança ? “Brincando de Engenheiro” ? “Blocos de Construção” ? “Blocos Xalingó” ? Ou o impagável “Brincando de Engenheiro com a Turma do Chaves” ? (sim, existe).
Há um tipo de arquitetura na cidade que não fica nada a dever aos prédios que construíamos com bloquinhos coloridos na infância. Costumo chamá-la de Arquitetura Pueril e seu estilo limita-se à junção de blocos formados por figuras geométricas simples, com cores berrantes. O grande oferta de materiais pré-fabricados bem como o desejo das grandes redes comerciais, ansiosas por padronizar suas lojas e criar uma identificação fácil com uma freguesia de gosto duvidoso, ajudam na proliferação da Arquitetura Pueril. O McDonalds é o modelo arquetípico, e se levarmos em consideração que qualquer vizinhança do McDonalds é necessariamente suja (devido ao volume absolutamente espantoso de detritos produzido pela indústria do fast-food), o resultado é a destruição de mais e mais áreas da cidade.
Repetindo-se como tragédia, a Arquitetura Pueril vai além das grandes redes, multiplicando-se por toda a cidade e tragando os espaços. Shopping Centers são pródigos nesse “estilo”, edifícios baratos de classe média (e alguns caros também), bem como os terríveis buffets infantis e pré-escolas, que desde cedo acostumam a criança ao mau gosto visual. Ainda pior, há uma modalidade de Arquitetura Pueril disfarçada de arquitetura adulta: trata-se do afamado neo-clássico paulistano. Aqui, as cores berrantes são substituídas por cores mortas, e os blocos de pré-moldados são empilhados de forma mais ou menos homogênea, visando dar um ar de elegância ou jeitão aristocrático. Trata-se, por excelência, da arquitetura nouveau-riche (tão indigente quanto a vieux-pauvre).
De onde vem tanta indigência ? Presumo que uma de suas origens seja a arquitetura de auto-estrada, made in USA, em que os estabelecimentos comerciais devem ser identificados claramente pelo que são a longa distância e em alta velocidade. Daí as formas simples e cores fortes. O triunfo do Modernismo, e seu apelo à simplicidade e superfícies lisas também tem algo a ver, certamente. O individualismo triunfante tem seu papel, uma vez que cada edifício é projetado para ser um fim em si mesmo, e que se dane o entorno.
Porém, temo que sua origem e proliferação esteja relacionada também a outra questão. Já repararam como a Arquitetura Pueril lembra as toscas maquetes de alunos de primeiro ano de arquitetura ? Na sua simplicidade atroz e na limitação da construção à superposição de volumes básicos, as semelhanças são gritantes. Sabemos que no primeiro ano de arquitetura o uso dessas formas, bem como sua manipulação, tem lá sua função, estimulando e provocando o jogo da criatividade, mas ninguém imagina que essas pequenas maquetes darão origem a edifícios reais um dia. Pois a Arquitetura Pueril ousa construí-los: repare como as construções parecem mesmo edifícios em miniatura que foram erguidos fora da escala mínima de onde nunca deveriam ter saído.
E aqui descobrimos a origem da proliferação da Arquitetura Pueril: o mau arquiteto que passa sua vida preso ao modelo estético da maquete e do bloquinho colorido, sem desconfiar que à sua volta existe algo vibrante chamado CIDADE.
PS. Sobre a foto, trata-se de loja na avenida Aclimação. O prédio à esquerda também é pueril: um maquetão de uns 15 andares, com poucas janelas quadradas e paredes cinzas, nuas, ao qual foram encaixados alguns triângulos e losangos com função de terraço. Os postes onipresentes e a fiação elétrica aérea completam a devastação da esquina .
6 comentários:
Giannnnnnn,
Conseguiu me fazer refletir de novo. xP
Coisas como essa aí já são tão batidas na nossa rotina que para nós, num primeira impressão, fazem quase nenhuma diferença
Valeu, professor! É assim que não deixo de ser "ser um pensante" e evito tornar-me apenas uma máquina de resolver exercícios, um robozinho regido pelo sistem! ;]
Não é só porque está chegando a Fuvest que vou parar de ler o que você escreve ou deixar de pensar em tudo, num mundo todo que está a minha volta, muito além daquele muquifo daquela sala de aula.
x]
\o\
Íssimo, um dia você me ensina a escrever muitíssimo bem?
haha, acho que toda vez deve ter alguém que diz isso.. !
e.. " adorei seus textos e gostei muito do seu blog! " também, né?
Minha vez de falar essas coisas! =]
beijoo!
".... se as pessoas que passam diante de nossa vida ....acabamos por ganhar nada menos que a imortalidade." Muito bom, usarei no meu cotidiano =)
Engraçado q talvez vc nao saiba o alcance do seu discurso, porem quem foi seu aluno sabe. E nao eh soh o discurso, mas o modo q vc fala e os recursos q utiliza. A grande parte dos professores do anglo sao vistos como "DEUSES". Como será q os deuses vêem(veem em 2009) os alunos? Oq vc sente quando está rodeado d alunos num bar, sabendo(ou nao) q eh a atraçao principal?
Eu sempre pensei 'Seria legal fazer amizade com os professores assim como akela turminha ali faz, mas e depois? Sao tantos q passam no Anglo q fatalmente muitos cairão no esquecimento.' Começarei a usar meu discurso pra alcançar a imortalidade hehehehe
Willzito - The poppy flower
Eu imagino vc parado pra tirar a foto e um aluno lah d dentro da loja entre uma dentada e outra no nº4 bradando:
"Fraseeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee"
Will
Sempre lembro dos dois lados dessa relação: todo ano os professores levam um bocado dos alunos. Assim, está compartilhada a imortalidade, vcs continuam sendo assunto depois que saem do Anglo, vcs passam a fazer parte da nossa memória.
Talvez a atração principal do bar seja a turma de alunos.
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