terça-feira, 18 de junho de 2013

Novas considerações desapaixonadas


1 – Suspeito que o movimento ganhou dimensão porque a classe média foi para as ruas. Pelo menos foi isso que vi no 17 de junho e nas, digamos, cem mil pessoas que lá estavam. Eram jovens, quase sempre bem vestidos, quase sempre brancos (isso é francamente perturbador), grande número de estudantes universitários. (E vamos combinar assim : ninguém deixa de ser classe média por estudar Sociais na USP, ok ?). Guardo na memória um comentário que ouvi de um grupo de trabalhadores uniformizados (da Eletropaulo ?) que contemplava a passeata: “Trabalhar que é bom essa gente não quer...”.
 2 – Ao ganhar dimensão, o movimento perde consistência: começam a ser ouvidas as propostas vagas, típicas de classe média: contra a corrupção, pela moralização. Ou ainda, o inevitável “contra os impostos”. Felizmente, essas propostas ainda são minoria, os vinte centavos e as consequentes melhorias no transporte público, bem como a mudança na política de transportes ainda dão a tônica do movimento. Cabe aqui, mais do que nunca, fechar um projeto, atrelar a mudança no transporte público à mudanças na própria estrutura dos governos municipais (por exemplo, em São Paulo, quem precisa de 55 vereadores ? O Tribunal de Contas e seus nababos, servem para que ? A Prefeitura ainda tem a petulância de ter gastos com marketing ?). Já vejo a maioria dos manifestantes de classe média devidamente sensibilizados por pautas como essa, e as propostas vazias começam a ser deixadas de lado.
 3 – Se a classe média sair do movimento, quem vai sobrar ? Haverá um chamado às massas proletárias ? Acredito que, se houver, não será atendido: a massa proletária transformou-se na classe C emergente. Será que diante das prestações do carro novo (aproveitando o IPI reduzido), alguém vai sair nas ruas para defender melhoras no buzão ? Estou evidentemente exagerando, mas acredito apontar para um problema muito sério: o projeto de inclusão pelo consumo pode ter “matado” o que sobrou das massas proletárias.
4 – Se a classe média for embora e as massas proletárias não comparecerem, a única coisa que vai sobrar para o movimento vai ser a violência, como única forma de preservar a duramente conquistada visibilidade. Mais um vez, escrevo no calor da hora: são 22h20 e começam a chegar notícias de lojas saqueadas e bens de consumo roubados no centro de São Paulo. Claro, legitimando a repressão; e o resultado é que se continuar assim ninguém mais vai para a rua, muito menos a classe média.
 5 – Num país onde se afronta a lei cotidianamente, partindo do estado e de sua máquina, respeitar a lei é quase um ato radical, e é a única forma de enfrentar a barbárie que encontrou uma forma de expressão no moralmente falido estado brasileiro.

2 comentários:

Carol disse...

Continuo adorando ver sua cachola funcionar.

Mariane disse...

A questão do transporte público está cada vez mais distante, é como se ao invés do movimento conscientizar as pessoas, as pessoas se apossaram do movimento e distorceram o motivo que iniciou isso tudo.. e pior ainda, estão colocando causas não só genéricas como moralistas e conservadoras. Essa coisa de expulsar partidos por exemplo, se uma parte da sociedade é responsável por esses protestos ecoarem, essa parte sem dúvida é formada por alguns partidos... ou então a forma autoritária e violenta que a PM atua e a sociedade insiste em achar que e normal (já que não atinge a querida classe média, como ficou bem claro na segunda)essa questão praticamente sumiu da pauta. como um conhecido disse:"quão mais lotada eu vejo essas manifestações, mais vazias elas tão parecendo".
Dá vontade de bater a cabeça na parede quando vejo uma galera agindo como se estivessem num grande espetáculo, todos estão lavando a alma agora, já que finalmente resolveram sair da frente do computador. Essa parte da sociedade que vive numa bolha só tirou a bolha do facebook e foi pra rua, mas o que tem dentro dela não mudou praticamente nada, ela continua firme e forte, o Brasil na verdade não acordou, ele só é sonâmbulo..